O Bryne FK, clube que revelou Erling Haaland para o futebol, está de volta à primeira divisão da Noruega após 22 anos e tem chamado atenção não apenas pelo desempenho em campo, mas por seu carisma singular e forte conexão com as raízes rurais da região de Jæren.
Com sede em uma cidade de apenas 13 mil habitantes, a cerca de 30 minutos de Stavanger — terceira maior cidade do país —, o Bryne decidiu abraçar de vez a identidade agrícola local como marca registrada. E o resultado é uma experiência única para torcedores e jogadores.
No modesto Jæren Arena, com capacidade para 5 mil pessoas, os elementos do campo se misturam ao futebol de forma inusitada. Tratores são usados como poltronas VIP, silos de grãos foram adaptados para abrigar as câmeras do VAR, e uma das laterais do estádio é reservada para torcedores que assistem aos jogos diretamente de seus próprios tratores, estacionados à beira do campo.
A excentricidade também se estende às premiações. O goleiro Jan De Boer, eleito o melhor em campo na estreia da equipe em casa, levou para casa quatro bandejas de ovos frescos — produto típico da região. O atleta holandês compartilhou parte do prêmio em forma de omelete com os colegas e presenteou outro jogador que o ajudou com carona. A tradição já pegou: até o time adversário na estreia fora de casa, o Kristiansund BK, foi agraciado com ovos pelo clube.
“Queremos ser reconhecidos como o clube dos fazendeiros”, explicou Bjorn Hagerup Roeken, gerente de marketing do Bryne, em entrevista à Reuters. “Nossa torcida sempre exaltou nossas origens agrícolas. Honrar essa identidade fortalece o orgulho local”, completou.
Apesar da estética rústica, o clube não abre mão da modernidade. O estádio conta com wi-fi gratuito, telões para transmissão e uma estrutura tecnológica que acompanha o padrão da elite do futebol europeu. A união entre tradição e inovação tem garantido ao Bryne um lugar de destaque na mídia internacional e nos corações dos torcedores.
E, mesmo distante, o filho mais famoso da cidade segue acompanhando. Erling Haaland, astro do Manchester City, ainda não enviou ovos ou tratores, mas os torcedores brincam: as portas estão sempre abertas para um “churrasco caipira” no Jæren Arena.
A aposta na originalidade tem dado certo. Em um cenário em que muitos clubes buscam internacionalização e padronização, o Bryne prova que o resgate das raízes pode ser um diferencial poderoso — e, por que não, inspirador.